sexta-feira, 3 de abril de 2009

Rabugices

Uma pesquisa feita pelo NPD Group, em 2008, 52% dos jovens pesquisados, entre 13 e 17 anos, preferem ouvir músicas em rádios online, mais informações aqui.

Talvez por que as novas gerações não são ligadas a materialidade, ou seja, ao contrário das gerações anteriores os jovens não se preocupam tanto em ter o objeto, preferem aparentar ser. Tem tudo na internet, na maioria das vezes gratuitamente.
Essa atitude de não se interessar muito pela materialidade, pode até ter o lado positivo. À medida que a expansão demográfica faz com que casas e apartamentos cada vez tenham menos espaço quanto menos coisas você tem para guardar, melhor. Não é de se admirar que uma das grandes promessas que vão revolucionar a tecnologia do futuro é o sistema de arquivamento em nuvem. Você não precisa ter mais nada dentro do seu computador, deixa que o servidor do Google, guarda as poucas coisas que você tem. O resto você escuta e assiste online, até mesmo jogos de videogame você pode jogar online sem precisar comprar os cartuchos¹, CDs, DVDs, etc.

Em contrapartida, essa geração só vive imersa na Matrix, tema que mais ou menos comecei a tratar aqui. A geração Orkut / Twitter só vive online, prefere jogos a sexo, não lê muitos livros² e não consegue se concentrar por mais do que 15 minutos em nada. Hoje em dia fazemos tanta coisa ao mesmo tempo na frente do computador, que nem percebemos quando termina uma música e começa outra.

Em contrapartida, um fenômeno que tenho notado foi a proliferação de SEBOS, Brechós e afins, é a valorização do que é “Vintage”, coleciono vinis há uns 10 anos, e me lembro que antigamente ia à galeria e com míseros R$30,00 conseguia comprar pelo menos uns 4 LP’s, hoje em dia se você conseguir comprar 1 e meio de graças a deus. Já vi casos de livro que no Sebo, eram mais caro do que um novo na loja. É ultra-cool ser vintage e os donos de Sebos fazem a festa.
Essas novas gerações que vivem num mundo de imagolatria, se preocupam muito com a aparência, então vamos entupir a casa de discos, não por que o som é melhor, a geração MP3 nem liga para isso, mas por que é cool. Essa falta de Materialidade do presente reserva qual futuro para nós? E quando os suportes para escutarmos/ assistirmos aos CDs, VHS, TAPES sumirem? O que estava registrado nessas formas será perdido para sempre? Outra dúvida, e aqui é uma angústia de um talvez futuro historiador, como faremos no futuro a história da nossa sociedade? Páginas e páginas de internet para pesquisar, sites fora do ar, links quebrados, registros apagados etc.Assim ficamos entupindo a casa de passado, e deixando o presente sempre descartável. Quem lucra com isso? Ainda não sei. Mas é algo a se pensar.

Eu admito que ainda estou muito ligado a materialidade, apesar de escutar música em streaming e pela Woxy, excelente rádio online, se eu gosto de música acabo fazendo download, preciso ter o registro no HD. Agora com uma ferramenta do RealPlayer consigo até baixar os vídeos do Youtube. Vivo entupindo o HD com esses materiais. Não consigo começar um texto direto na tela do computador, tenho que ter o suporte do caderno e da caneta, e mesmo assim depois de escrever no computador ainda imprimo para corrigir. Preciso do contato físico com o material.O ritual de tirar um disco da embalagem, colocar na vitrola, pegar na agulha e colocar pra tocar, sentar perto da caixa de som, ficar olhando o encarte imerso naquele mundo sonoro e só despertar com o estralo da agulha quando chega ao final do disco ainda me inspira. Mas na verdade acho que estou velho e rabugento mesmo, melhor parar por aqui e ir escutar um dos meus discos.


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1- OK, cartuchos são peças de Museu hoje em dia.
2-Nem ler um texto grande como esse.

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