terça-feira, 5 de julho de 2005

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SP já possui uma câmera para cada 16 habitantes
Até o metrô começou monitoramento do interior dos vagões em tempo real

Para associação de empresas do setor de vigilância eletrônica, cidade tem pelo menos 600 mil câmeras, em uma estimativa conservadora

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem anda num dos cinco novos vagões com ar-condicionado da linha verde do metrô não sabe, mas deveria sorrir, porque está sendo filmado. Os novos comboios têm 26 câmeras -quatro por vagão, mais duas externas no primeiro e no último carro da composição.
A imagem é transmitida em tempo real para um monitor na cabine do maquinista. Até o final deste ano, outros 16 novos trens com a mesma tecnologia devem entrar em operação, e mais 98 antigos estão em reforma para se equipar de câmeras.
Menos de dois anos atrás, o Metrô inaugurou um centro de controle de segurança para monitorar as estações, que hoje têm 930 câmeras vigiando as plataformas -e os usuários. Em um ano, elas serão 1.318.
"Mentira que estamos sendo filmados. Como não tem aviso disso?", diz Ângela Gonzaga, que andava anteontem na linha que cruza a avenida Paulista.
Os olhos biônicos do sistema de transporte subterrâneo são um indicativo de que a cidade está cada vez mais na mira das lentes de vigilância.
Dados da Abese, a associação das empresas de segurança eletrônica, mostram, na estimativa mais conservadora, que São Paulo já tem 600 mil câmeras, uma para cada 16 paulistanos. Há dez anos, elas eram 50 mil.
"No momento em que sai de casa, todo mundo já passa a ser gravado. Tudo é possível de ser monitorado", diz Selma Migliori, presidente da entidade. As poucas exceções livres de gravação são o interior de banheiros e de provadores de roupa.
Instaladas recentemente até em cemitérios para evitar o furto de restos mortais e de objetos dos túmulos, as câmeras estão instaladas nas regiões com maior circulação de pessoas, como a avenida Paulista e no comércio popular da rua 25 de Março, e em bairros de maior poder aquisitivo, como Jardins, Itaim Bibi e Morumbi.
Num condomínio, um sistema de circuito interno de TV pode custar R$ 100 mil.
Só a prefeitura tem 3.585 câmeras, controladas em sua maioria pela Guarda Civil, pela SPTrans, pela Secretaria da Educação (para vigiar as escolas públicas) e pelo departamento de trânsito. A Polícia Militar tem mais cem instaladas e outras 30 em teste.
As da CET nas marginais, por exemplo, têm alcance de quatro quilômetros em zoom. A primeira delas, ainda em operação, foi instalada há 25 anos. Todas passam por restauração para modernização e devem ficar prontas em outubro.
Somados radares e câmeras, a companhia de tráfego tem 605 aparelhos para monitorar o trânsito e aplicar multas.
"Tendo a violência como desculpa e o medo das pessoas como justificativa, invade-se a intimidade. O nível de neurose e o medo aumentaram, mas a sensação de segurança da população não é maior com esse aparato", diz Sérgio Kodato, coordenador do Observatório da Violência da USP.


Após furtos, rua Amauri adere ao "big brother"
DA REPORTAGEM LOCAL

Polo da alta gastronomia, que reúne algumas das cozinhas mais caras e bem avaliadas de São Paulo, como as do Parigi e do Dressing, o trecho de 300 metros da rua Amauri entre as avenidas Faria Lima e 9 de Julho, no Itaim Bibi (zona oeste), vai virar um "big brother".
Todos os 11 restaurantes sofisticados dali -sem exceção- já foram furtados. Da bolsa Hermès das mulheres finas que sentam na calçada a computadores dos caixas e TVs de 42 polegadas dos salões, os ladrões já levaram de tudo.
Um técnico da empresa de vigilância contratada pela associação dos "restaurateurs" da Amauri vai nesta semana estudar os lugares estratégicos e os pontos cegos para instalar 20 câmeras de segurança, uma para cada 15 metros da rua.
As lentes também serão colocadas na rua Peruíbe, a paralela dos fundos de boa parte dos comedores e por onde, acredita-se, os ladrões sempre entram.
"A maioria dos furtos foi por lá. É por causa dessas histórias que está sendo implantado o sistema de vigilância", diz Paulo Morais, presidente da associação dos restaurantes.
Entre segurança e mudanças no paisagismo da rua, foram gastos R$ 120 mil. Lixeiras e bancos de praça -hoje não há nenhum-, vão ser colocados ao longo das calçadas da via. A reforma começa no dia 15.
A instalação das câmeras na rua Amauri é reflexo do crescimento do mercado de segurança eletrônica na capital. A empresa Instalarme, especializada nesse serviço, diz que, três anos atrás, montava 15 circuitos internos de TV por mês. Hoje, num mês ruim, faz 50 sistemas.
"O mercado de câmeras é o que mais cresce na segurança eletrônica, em média 30% ao ano. Até condomínios de classe C já têm vídeo", afirma o gerente Fernando Moreira.

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